terça-feira, 30 de novembro de 2010

E de pensar nisso tudo, eu, homem feito, tive medo e não consegui dormir...

Mulher vulnerável é uma bosta mesmo, tanto defeito e fui nascer com mania de injustiçada? Basta uma palavra errada e eu choro compulsivamente dizendo que não mereço tanta desconsideração. Todo drama é bem vindo, ai meus nervos! Ultimamente o que mais tenho feito é questionar o rumo que tenho dado à minha vida, e isso cansa, os fatos estão sem sentido em tantos momentos que me deixam incrédula. Daí me apego ao passado e a falsa tranquilidade do que é conhecido, eu só queria entender porque tenho tanto medo do tédio, de ficar sozinha.Não sei citar motivos, mas alguma coisa me falta. O problema é que não sei fazer cara de paisagem e fingir que não é comigo, e pra pessoas ansiosas como eu isso faz um mal danado, ficamos intolerante, sabe? A língua trava de vontade de mudar todo o discurso pronto e dizer apenas a verdade. E do "falar a verdade" ao "me descontrolar e perder a razão"  é rápido, me chateio demais, saio xingando, reclamando, tão boba, sempre acabo voltando atrás. Acho que preciso é de um pouco de atenção, como diz àquela letra do Legião, acho que não sei quem sou, só sei do que não gosto, o que é demais nunca é o bastante...

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Luiza amanhã a mamãe vem...

Não tenho muito contato com crianças, e não é por ser minha filha, mas eu nunca vi uma igual à Ana Luiza. Ela era mimada, algumas vezes chamei a atenção dela, dei até palmadas, mas carinhosa e atenciosa não existia igual. Ela amava todo mundo e dizia isso, coisa que é complicada pra tantas pessoas, para uma criança de três anos era natural. Não sei se o que me dói mais é o fato de não ter dado o amor que ela merecia, ou saber que ninguém vai sentir por mim o que ela sentia, sem nada em troca, só por existirmos uma para a outra. Ter engravidado aos 18 anos trouxe grandes mudanças, para mim e minha família, e apesar de não ter tido escolha eu carreguei esse peso, e não encaro isso como um mérito, mas minha realidade mudou.  

Tem um pedido de perdão preso na minha garganta, isso tá pesando há dois meses e ainda vai demorar muito para aliviar. Será que ter sido mãe tão cedo, ter sido abandonada, e ter abandonado o que era planejado para a minha vida aliviam os erros que cometi?  Essa resposta eu nunca terei, e meu pedido de perdão também nunca será atendido, que crueldade eu, com 23 anos, ter passado pelo nascimento e a morte de um filho, que crueldade minha pequena, minha cheirosinha, ter sofrido desta forma. 


Eu adorava dividir o sofá com ela, pentear os cabelos molhados, ouvir o barulhinho da xupeta enquanto ela dormia, cheirar, beijar os olhos, dar um abraço quando ela corria em minha direção no corredor esperando minha chegada, pegar na mãozinha dela, beijar a boquinha pequena. Ah, como eu gostava! Nós tínhamos uma brincadeira em que eu ficava procurando ela dizendo: "Luizaaa cadê você?", e, embora ela estivesse na minha frente fazendo de tudo pra chamar minha atenção, eu fingia que não via até ela vir ao meu encontro e me dar um susto. Quando ela estava ali dormindo na UTI eu chamei por ela tantas vezes, e pela primeira vez, ela não respondeu. Sofro muito ao imaginar que ela entrou naquela sala acordada, como ela terá ficado ali, sozinha, passando mal, e sem nenhum de nós por perto?

Ontem vi uma reportagem que a clínica de aborto que eu visitei quando estava grávida foi fechada e o "médico" responsável preso, eu não fiz a maior burrice da minha vida porque não tinha dinheiro, depois, quando acabei tomando um remédio abortivo, pela primeira vez a Ana Luiza mostrou a força de vida dela, ela veio com saúde, perfeita, não deixou que a minha inexperiência abalasse a sua vinda. E que força de vida meu Deus, quando nasceu veio com o cordão umbilical preso ao pescoço, quatro voltas, o médico dizia que nunca tinha visto aquilo, mas ela sobreviveu. Aténas suas últimas horas de vida, sofreu quinze paradas cardíacas, resistiu quinze vezes a uma doença que nem sabemos qual é. E foi generosa o suficiente de ali, estando inconsciente, ainda responder com a cabeça quando eu falei que lhe amava. "Luiza amanhã a mamãe vem, a mamãe te ama", e foi assim a última vez que falei com ela, e foi balançando com a cabeça que ela disse adeus.


"E enquanto espero, talvez por você, coloco-me aqui, à margem do tempo, envolto em pó e em memória, imerso na neblina do desejo que não vê resposta"